Desde que foi anunciada, a série Chespirito prometia emocionar os fãs ao contar os bastidores da vida e obra de Roberto Gómez Bolaños, o criador de clássicos como Chaves, Chapolin e tantos outros personagens marcantes. A proposta parecia simples: resgatar a trajetória de um gênio do humor latino-americano. Mas conforme os episódios avançam, percebo algo que me incomoda — e acredito que incomoda muitos outros fãs também.
Sou um grande admirador da obra de Chespirito. Cresci assistindo às confusões da vila, rindo com o Chapolin Colorado e me encantando com o universo leve e ao mesmo tempo cheio de crítica social criado por Bolaños. Por isso, ver essa história sendo contada agora, com tantos recursos e uma produção cuidadosa, é algo que me chama a atenção. Mas também me faz refletir.
A série traz diversos momentos de fanservice: referências a episódios clássicos, falas icônicas, figurinos e cenários que nos fazem voltar no tempo. É impossível não se emocionar em certos trechos. Porém, o excesso desse recurso começa a dar lugar a algo mais problemático: a parcialidade.
Sabemos que a história é baseada na visão dos filhos de Roberto Bolaños. E isso é perceptível em praticamente toda a construção dos personagens nos bastidores. O que mais chama atenção e preocupa é a forma como Quico (Carlos Villagrán) e Dona Florinda (Florinda Meza) estão sendo retratados. Ambos surgem quase como vilões, sempre em oposição ao protagonista, como se estivessem atrapalhando sua carreira ou agindo por puro ego.
Essa escolha de narrativa pesa. Como fã, é difícil ver personagens que marcaram nossa infância sendo colocados em uma posição tão negativa. Entendo que houve conflitos reais nos bastidores, disputas por direitos, desentendimentos pessoais e egos, mas será que era mesmo necessário pintar tudo com esse tom?
A magia de Chaves sempre foi o conjunto. Cada personagem tinha seu papel único, e juntos construíam algo maior do que suas individualidades. Ao destacar apenas o lado “bonzinho” de Chespirito e transformar seus colegas em antagonistas, a série perde um pouco dessa essência coletiva. E isso, para quem cresceu com amor por todos, é doloroso de assistir.
Não me entenda mal, a série é bem produzida, tem momentos tocantes e é uma justa homenagem. Mas quando se trata de contar uma história real, especialmente tão querida por milhões, é preciso responsabilidade. Mostrar apenas um lado dos fatos pode afastar parte do público que esperava algo mais fiel, mais humano e menos direcionado.
Como fã, sigo assistindo com o coração dividido: feliz por ver o legado de Chespirito ganhando espaço, mas triste por ver antigos companheiros sendo tratados com frieza. Torço para que os próximos episódios busquem mais equilíbrio, valorizando não só o criador, mas também todos que ajudaram a dar vida a essa obra imortal.
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