Como os doramas conquistaram o mundo e se tornaram expressão cultural global
Nos últimos anos, as séries coreanas, popularmente conhecidas como doramas, deixaram de ser um nicho para se tornarem verdadeiros fenômenos globais. Títulos como Round 6, Crash Landing on You e O Rei Eterno ocuparam o topo das paradas da Netflix em vários países. Mas o que está por trás desse sucesso que vai além do entretenimento? A resposta está na cultura.
As produções coreanas estão moldando, exportando e fortalecendo uma identidade cultural com alcance internacional. Elas são uma das expressões mais visíveis da Hallyu, a “onda coreana”, um movimento de expansão cultural iniciado no final dos anos 1990 que hoje abrange música, cinema, moda, gastronomia e, claro, os doramas.
Ao assistir a um dorama, o público global entra em contato com uma série de elementos socioculturais da Coreia do Sul: a reverência aos mais velhos, os valores familiares, o respeito à hierarquia, os conflitos entre tradição e modernidade, além da estética visual refinada.
Essas séries funcionam como janelas para a vida cotidiana coreana, desde a culinária (comidas típicas aparecem em praticamente todos os episódios), passando por hábitos sociais como tirar os sapatos antes de entrar em casa, até formas de se expressar emocionalmente que contrastam com o modelo ocidental.
Ao contrário de muitas produções hollywoodianas que seguem fórmulas previsíveis, os doramas exploram temas universais com uma abordagem própria. O ritmo costuma ser mais lento, permitindo maior desenvolvimento dos personagens e vínculos emocionais.
Mesmo em gêneros como romance, fantasia ou suspense, há espaço para refletir sobre questões sociais, como desigualdade econômica, educação, saúde mental e estrutura familiar. O drama Sky Castle, por exemplo, critica o sistema educacional elitista sul-coreano, enquanto Round 6 usa o formato de jogo para denunciar o capitalismo selvagem.
A Coreia do Sul construiu uma identidade estética clara em suas produções: figurinos elegantes, cenários minimalistas, trilhas sonoras emotivas e direção de arte altamente simbólica. O estilo visual das séries é intencionalmente marcante, uma forma de comunicar não apenas beleza, mas também valores.
Essa estética coreana mescla tradição, como hanboks, arquitetura e cerimônias, com tecnologia de ponta e vida urbana acelerada, refletindo a realidade de um país que preserva suas raízes mesmo sendo referência em inovação.
O sucesso dos doramas também está atrelado a uma estratégia bem-sucedida de diplomacia cultural. O governo sul-coreano apoia financeiramente a exportação de produtos culturais, reconhecendo seu poder como soft power, ou seja, como influência internacional sem uso da força.
Ao mesmo tempo, a globalização e as plataformas de streaming facilitaram o acesso às produções. A Netflix, por exemplo, investiu bilhões de dólares em conteúdo coreano e disponibilizou legendas em dezenas de idiomas. O resultado é um conteúdo profundamente local que se tornou universal.
Outro ponto essencial é o papel das comunidades de fãs. Grupos de admiradores ao redor do mundo promovem, traduzem e discutem os doramas com uma dedicação impressionante. Eles não apenas assistem, mas estudam e compartilham elementos da cultura coreana, da língua ao comportamento.
Assim, os doramas ajudam a criar pontes culturais e a reduzir barreiras entre povos. Eles despertam interesse genuíno por um país que, até pouco tempo atrás, era pouco conhecido no Ocidente.
As séries coreanas não conquistaram o mundo por acaso. Elas são frutos de um projeto cultural sólido, que une identidade nacional, criatividade e estratégia global. Em um mundo cada vez mais conectado, os doramas mostram que é possível ser local e, ao mesmo tempo, universal. E que a cultura é, acima de tudo, uma poderosa forma de diálogo.
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